Mudar de carreira é mudar de identidade! Esta afirmação, feita pela professora do Insead, Hermínia Ibarra, em seu livro Working Identity, revela um dos principais desafios enfrentados por quem decide fazer uma transição profissional. O processo de mudança para uma nova carreira traz uma séria de dificuldades e é normalmente acompanhado por períodos de grande angústia, confusão e sofrimento. Neste artigo, apresentaremos os principais desafios enfrentadas por quem passa por um processo de transição de carreira e quais atitudes e ações colaboram para uma mudança bem sucedida.
Um dos maiores desafios da transição é o de abandonar a segurança de uma carreira bem estabelecida por outra ainda incerta. É uma situação que gera muitos medos e grande insegurança. Alguns dos fantasmas que nos assombram ao fazer uma mudança são: “estarei colocando a segurança da minha família em risco?”, “será que terei sucesso na nova carreira?”, “E seu eu não conseguir ganhar o suficiente?”. Por se tratar de um processo no qual não há garantias e que envolve grande dose de risco, uma transição de carreira exige o desenvolvimento de forte resiliência e uma boa dose de autoconfiança. A ajuda de pessoas da sua rede de relacionamentos é fundamental. Elas podem oferecer apoio emocional e facilitar a sua adaptação a um novo trabalho. Uma boa reserva financeira, também o ajudará a enfrentar eventuais quedas de ganhos financeiros durante a transição. Por isso, é bom fazer um “pé de meia”.
Outra barreira para as transições é a dificuldade dos outros de entenderem porque queremos mudar. Geralmente, as pessoas mais próximas de nós são aquelas que mais criam dificuldades para a mudança. Certa vez, tive um cliente de coaching que acabou se divorciando da esposa, pois ela não aprovava o fato dele abandonar uma carreira bem sucedida de executivo de uma grande multinacional para se tornar professor. Quando mudamos de carreira é muito comum decepcionarmos algumas pessoas. Devemos aceitar o fato de que nem todos irão compreender os motivos da nossa mudança. Então, desista de tentar convencê-los! Aceite o fato de que você não precisa da aprovação de todos os seus familiares e amigos para fazer a sua mudança e toque a vida para frente. Não terceirize a sua felicidade!
Uma outra dificuldade enfrentada durante a mudança de carreira é a angústia gerada pela sensação de não saber quem somos. William Bridges, autor do livro Transitions: making sense of life’s changes, diz que toda transição começa com um fim e termina com um novo começo. Começa com o abandono de papéis, relacionamentos e comportamentos que não nos servem mais e termina com a formação de novos papéis, comportamentos e relacionamentos em uma nova carreira. No entanto, entre o “fim” e o “novo começo” existe um grande vazio que Bridges chama de “Zona Neutra”. Na zona neutra, já abandonamos uma identidade que não nos cabe mais, mas ainda não definimos uma nova. Este vazio existencial gera um grande desconforto. Uma sensação desagradável de não termos respostas para a pergunta “Quem sou eu?”.
Para enfrentar essa angústia algumas pessoas recorrem à ajuda de profissionais de coaching ou terapeutas. Outras, buscam apoio espiritual na religião ou com os seus gurus. Seja como for, a busca de autoconhecimento é fundamental na transição. Conhecer melhor a si próprio o ajudará a encontrar respostas para seus dilemas e poderá acelerar a sua mudança. É muito importante entender que este desconforto faz parte do processo e, portanto, você deve enfrentá-lo, não desistir e seguir até o fim. Muitos não suportam esta angústia e acabam por voltar para sua antiga identidade. Mas depois de algum tempo, certamente estarão infelizes e sofrendo novamente.
Não é fácil passar por uma transição de carreira, mas existem várias maneiras de tornar a jornada menos dolorosa. Quando a mudança é bem sucedida, as pessoas encontram um trabalho mais alinhado com quem elas realmente são. Terminam encontrando a si próprias, tornando-se mais elas mesmas. Com isso, se sentem mais realizadas e felizes. Se você está insatisfeito com o seu trabalho e pensando em se reinventar, um processo orientado de coaching poderá ser um grande aliado e certamente irá te ajudar a enfrentar os desafios e obstáculos da mudança.
Esteban Ferrari, sócio da FTR, é engenheiro, especializado em administração e mestre em gestão de pessoas.