Como equilibrar as finanças pessoais?
O coachee (cliente de coaching) chegou a mim quando o banco se negou a lhe renovar o crédito pessoal. Não admira, as prestações já superavam metade de seus gastos mensais e superavam sua renda média dos meses anteriores. Sua renda, por sinal, é muito incerta: profissional liberal, vive de trabalhos avulsos, em um mês ganha X, no outro dezoito vezes X e, na média… não há média, sua renda nunca estabiliza.
Parar de gastar. A primeira etapa de trabalho foi, de certa forma, obrigatória. Com mais ou menos dor, seus gastos teriam que baixar a ponto de caberem em sua renda. O coaching serviu para dar racionalidade ao processo, investigar quais gastos eram mais importantes na perspectiva do coachee. A decisão de que gastos eliminar necessariamente é uma decisão individual, pessoal, e ele assumiu esta responsabilidade facilmente. Alguns trabalhos extras e a ajuda de amigos permitiram superar o empréstimo com o banco sem ter que vender seu único patrimônio, um apartamento herdado. A forma de pedir ajuda aos amigos, foi uma etapa importante do trabalho, para evitar constrangimentos de parte a parte.
Construir reservas. A segunda etapa foi uma extensão da primeira. Se ele consegue adaptar suas despesas para ficarem abaixo da renda, ele pode depositar um percentual da renda todo mês em aplicações financeiras e viver com ainda um pouco a menos. Assim, de falido ele passou a ter alguma reserva para urgências. A meta, neste momento, é acumular o suficiente para viver até seis meses sem renda, além de reembolsar os amigos. Seis meses é tempo suficiente para buscar alternativas de forma organizada; reservas neste tamanho permitem enfrentar ausências por problemas de saúde ou qualquer outro imprevisto. Também, são reservas que permitem estabilizar o padrão de vida (gastos mensais) mesmo com as grandes variações na renda mensal. Atingida esta meta, a próxima será otimizar a renda passiva que as aplicações financeiras propiciam. Ele precisa aprender a escolher entre as inúmeras opções e adquirir autonomia na gestão de seu patrimônio.
Gerar novas rendas de trabalho. Estamos nesta fase, que tem se mostrado a mais interessante e construtiva, Não há porque ele se contentar em viver com muito pouco, o coaching tem o papel de expandir os limites. Um profissional liberal, como uma empresa, tem dificuldade em definir o “seu preço” enquanto depende dos trabalhos aparecerem. A partir do momento em que há uma “fila de espera” ele adquire a liberdade de recusar trabalhos, impor condições. É necessário construir esta fila de espera.
Até então, todos os trabalhos surgiam de sua reputação, deus ex machina. Algumas das perguntas feitas: De onde surgem seus trabalhos? E se este tipo de trabalho sumir, desaparecer, o que mais você pode realizar com seu conhecimento, seu network (rede de relacionamento), suas competências? Identificadas as atividades que ele já exerce ou facilmente passaria a exercer, ele as classificou entre as que geram mais rapidamente renda (aptidão, competências e possibilidade de conseguir clientes), as que geram mais renda vis a vis o esforço exigido, as que ele mais aprecia.
Surpresa: as atividades mais interessantes para ele, tanto pela facilidade em as obter, quanto em remuneração versus esforço, não são as atividades que o tornaram conhecido em seu meio. A sua atividade “tradicional” é uma vitrine para os trabalhos mais rentáveis e deve ser mantida com este propósito.
O plano de ação que ele desenvolveu na sequência foi criar uma rotina de contato com as pessoas que podem lhe gerar estes trabalhos mais rentáveis. Ser visto para ser lembrado. Não se trata de pedir trabalho, algo que o deixa constrangido, portanto fora do seu estilo de atuar. O simples contato social, sem interesse específico, mas com um discurso que introduz o tema: tenho feito os seguintes trabalhos, fui convidado para X e Y, Beltrano me sondou para tal projeto. Falas que lhe são naturais e dão ao seu contato a possibilidade de pensar nele quando for o momento. A boa notícia é que de tanto repetir esta prática social, já se tornou um hábito.
Texto de autoria de João Carlos Ferreira, executivo da área da saúde, economista com especialização em marketing e coaching e um dos fundadores da FTR Desenvolvendo Pessoas.
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